domingo, 29 de março de 2009

Poesias de Mário Brasil

Distante


Dois mezes, só dois mezes e, no entanto,
Um século parece-me passado
Que do lar me auzentei, do lar amado,
Onde tudo sorria! Mas o pranto

Hoje me innunda a face, chóro e quanto
Soffro! Saudades tenho do sagrado
Ninho, onde eu era simples bafejado
Pelo affecto paterno e sacrosanto.

Saudades tambem tenho dos leaes
Amigos que venero, mas jamais
Esquecerei a quem, do inno do peito,

Consagro puro e verdadeiro amor,
A quem me tem o coração sujeito,
Virgem das virgens, tentadora flôr!


Porto Alegre, 27-4-1910.

***

Revendo o Passado

Si ainda agora revejo do passado
As brumas, mil figuras me apparecem
Que se agglomeram, multiplicam, crescem ...
Quanta gente, meu Deus, ali pasmado

Eu noto! E desse grupo, destacado,
Vejo um ser. É uma mulher. Não me esquecem
Suas labias. Quão ingrata foi! Perecem
Minhas chimeras e illusões. Culpado

Não sou. Amo-a ainda e o dever me obriga
A esquecel-a Contraste! Sei que imiga
Não é do meu amor, quer-me ainda agora,

E devo abandonal-a, pois sincera
Não foi, e assim de mim mais nada espera
Porque amor não se pede e nem se implóra.

Porto Alegre, 12-6-1910.

Alemães no RS: Os Fischer (4ª parte)

Alemães no RS: os Fischer (4ª parte)
autoria de Diego de Leão Pufal

Minha trisavó, Leopoldine Wilhelmine Fischer (Leopoldina Fischer), nasceu a 24 de setembro de 1877, no morro da Fortaleza, município de Taquara/RS, e foi batizada a 24 de janeiro de 1878 na igreja evangélica de Igrejinha/RS, tendo como padrinhos Jacob Spindler, a esposa Elise Deuner (prima de Helmuth Schmitt, abaixo), Philipp Fauth (tio materno) e Wilhelmine Ludwig. Leopoldine foi a terceira filha (de 14) do casal Philipp Nicolaus Fischer e Paulina Fauth, ambos nascidos em Taquara/RS e filhos de alemães.
Leopoldina Fischer, fotografia de 1900 (+/-).

Aos dezenove anos, Leopoldina foi trabalhar como doméstica na casa de Johann Nicolaus Schmitt (tio de sua madrinha Elise Deuner) em Taquara. Lá conheceu e se envolveu com o filho de Johann Nicolaus, de nome Helmuth Schmitt, que estava ali para trabalhar na construção da estrada de ferro, durante os anos de 1894 a 1899, contratado por João Corrêa Ferreira da Silva e João Legendre. Em 1898, Leopoldina já grávida do relacionamento que manteve com Helmuth Schmitt, foi residir na localidade de Aurora, distrito de Taquara, na casa do cunhado Guilherme Puls (casado com Amalie Fischer), possivelmente para não revelar a gravidez, ali nascendo, no dia dois de março de 1898, Helmuth Schmidt Filho, meu bisavô - referido neste blog.
Passados alguns anos, Leopoldina casou-se com Pedro Bloss e foi residir em Riozinho, hoje município, à época pertencente a Rolante/RS, com quem gerou mais: Frida, Arlindo, Alice, Irene e Hilda Bloss.
O casal e filhos residiam em uma casa de pedra, num morro, em Riozinho, onde Leopoldina faleceu aos 05 de fevereiro de 1959. Ali também criou os filhos de seu segundo casamento, pois o primeiro (Helmuth Schmidt Filho), ainda adolescente, veio para Porto Alegre trabalhar com os tios Artur Felipe Fischer, Fredolino Fischer e Antônio Genta, sendo, posteriormente, sócio da Casa Genta & Schmidt Ltda.

terça-feira, 10 de março de 2009

Poesias de Mário Brasil

Um Enforcado
(Soneto sem verbos)

Noite serena, tentadora e bella,
Mudo silencio na deserta rua,
Raios de prata da fagueira lua
Sobre um espectro livido à janella.

Sombras, entanto, no interior na cellam
Livros esparsos sobre a mesa sima,
Um pobre catre, realidade crua,
E ainda um coto misero de vela.

E nada mais naquelle quarto umbroso ...
Um momento depois ... quadro horroroso,
Scena terrivel, tragica guarida!

Pois o corpo daquelle desgraçado
Rigido, inerte, hirto, enregelado,
Do tecto eil-o suspenso e já sem vida ...!
Porto Alegre, 3-4-1910.