sexta-feira, 18 de julho de 2008

Poesias de Mário da Silva Brasil

Outros poemas:
O que te peço


A dor que no meu rosto se retrata
Não deriva de um mal que não tem cura,
E si esse mal atróz inda perdura
Si me atormenta sempre e me maltrata,

E’ que essa dor cruel que assim me mata
Não posso dominar! E que tortura
Que supplicio de tétrica negrura
Ao extremo delírio me arrebata!

Mulher, de ti depende o meu soffrer
Salva-me pois! E queres tu saber
O balsamo que extingue a minha dor?

Interroga meu ser, minh ‘alma, e então
Responderá meu triste coração:
Ama-me, oh virgem, necessito amor! ...

Santa Maria, 4-1-912;
Publicado no jornal A ALVORADA,
Rio Pardo, de 9 de março de 1913

****

A Cruz
(Para a filhinha)

Ao peso enorme de afflictiva cruz,
Marchava, um dia, por caminho estreito,
Roto viandante que, do bom Jesus,
Implóra allivio ao seu dorido peito

E o Deus bondoso, logo após, conduz
O miserando, que de dor foi feito
Para as ethereas regiões da luz,
Onde está tudo que ha de mais perfeito

Goza, portanto, junto ao Deus eterno
Quem soffreu tanto no terreno inferno,
Agrilhoado sem que fosse um réo.

E, agora, alegre com o prazer que sente
Diz, venturuso, bem feliz, contente;
Soffri na terra p ‘ra gozar no céo!

Santa Maria, 26-10-1908.
***
Flores

Flôres são astros esplendente espaço
Flôres são glorias que os heróes coroam,
Flôres são cantos que na lyra entoam
Vates sublimes como Homero e Tasso!

Flôres são beijos que profundo traço
Deixam nos labios donde nunca escoam,
Flôres são sonhos que na mente voam!
Flôres são gósos de um sincero abraço,

Flôres são dias dessa juventude,
Que a nós é bôa, folgoza, querida,
Flôres são virgens de uma sã virtude,

Essa virtude que Jesus pregou!
Flôres são estros dos heróes na vida,
São flôres versos que Camões cantou!

Santa Maria, 9-10-1908.

***

Aos Invejosos
(Resposta ao amigo Octaviano Nicoll)


Que me importa que o latego invejoso
Do pedante ou do zoilo me fustigue?
Que me importa que que a lingua se fatigue
Do tolo virulento e pretencioso,

Que contra mim vomita odio maldoso?
Que me importa que o zoilo não mitigue
A sede do despeito? E que me intrigue
Ouvidos não darei , a um typo odioso.

Orneje, berre, zurre, pouco importa,
Pois a inveja de um asno é lettra morta
Para os homens de merito real;

E’ do lado o mais vil e negro verme,
Asqueroso reptil infimo e inerme
Que não póde morder nem fazer mal.

Santa Maria, 15-11-1909.

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