sexta-feira, 18 de julho de 2008

Poesias de Mário da Silva Brasil

Mais algumas poesias:

Isolamento


Hoje que vivo em triste isolamento,
Longe da luz, do mundo e da alegria,
Sinto invadir minh’alma, dia a dia,
O mais terrivel e cruel tormento.

Não tenho um só instante, um só momento,
Alguem que me consóle e me sorria
Que me disfarce a dor que me crucia
E que me traga allivio ao soffrimento.

Um conforto procuro quasi em vão,
Encontrarei, porem, no coração
De quem sempre conservo na lembrança?

Não sei, mas como o naufrago sem guia,
Nos momentos supremos da agonia,
Illumina-me o facho da esperança!

Porto Alegre,15-4-1913.
Publicado no Jornal A RUA, São Sepé,
de 21 junho de 1913.
***

Um Beijo


No teu formoso rosto nacarado
Era, querida, todo o meu desejo
Depor um doce e prolongado beijo,
Beijo sincero, ardente e enamorado.

E porque não vou dal-o, anjo adorado?
Tens acaso receio, medo ou pejo?
Não! Aproveite pois o doce ensejo
E vou depol-o, sim? ... Bravo, apoiado!...

Que prazer e ventura sinto agora!
Quanto amor, quanta chamma me devora
As fibras de meu peito e o coração!

E que instante feliz! Que gozo extremo
Eu achei neste beijo bom, supremo,
Neste beijo de lavas de vulcão!

Santa Maria, 17-6-1906.
Publicado no Jornal A PRIMAVERA,
de-3 de março de 1912, nº 20.
***

Mãe

Mãe, misto de bondade, de ternura,
E de carinho tanto,
Complexo de meiguice e de candura,
De amor e doce encanto

Mãe, meiga colibri que tece o ninho
Avelludado e quente
Para nelle depôr o seu filinho
Tão lindo e sorridente.

Mãe, carinhoso ser que nos ampára
Nos braços, a sorrir,
Anjo que nos quer e luz que nos aclára
A estrada do porvir.

Mãe, creatura sublime que nos ama
E que nos dá guarida,
Vaso que em nossos corações derrama
O balsamo da vida.

Mãe, fonte de ventura e eterno amor,
Nossa arma e nosso escudo.
Divindade aureolada de fulgor,
Tu és o excelso tudo!

Santa Maria 10-09-1909;
Publicado no Jornal A RUA, São Sepé/RS
de 20 agosto de 1913-n.19
***

Teu Perfil


São fios sedosos teu cabello lindo,
São duas estrellas teus brilhantes olhos,
Das que semeiam este espaço infindo,
Como é semeado todo mar d ‘escolhos!

Esses teus lábios que seduzem tanto,
A quaes primicias comparal-os-ei?
Creio e confesso que só o nome - Santo,
E delles propio que no mundo achei!
Parecem feitos para um beijo ardente
Tuas roseas faces que mimosas são,
E nesse peito vero amor fremente

Guardas no fundo de teu coração!
Vejo mais inda que feliz,
‘S tará minh’alma si não canto em vão!


Santa Maria, 1908.

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