quinta-feira, 31 de julho de 2008

Corrêa da Silva (II) - Raymundo Corrêa da Silva

CORRÊA DA SILVA
- Raymundo Corrêa da Silva -
autoria de Diego de Leão Pufal

RAYMUNDO CORRÊA DA SILVA foi o único filho do casal José Corrêa Ferreira da Silva e Carolina Henriette Marianne Koch que chegou à idade adulta. Nasceu a 30 de agosto de 1845 em São Leopoldo, onde foi batizado a 09 de novembro do mesmo ano, cidade em que também faleceu aos 06 de fevereiro de 1915. Foi comerciante no Vale do Rio dos Sinos e desempenhou vários cargos públicos na então vila de São Leopoldo, onde foi delegado de polícia, tenente-coronel, subintendente (vice-prefeito) do 1° Distrito, presidente do Conselho da Instrução Pública, juiz de paz, dentre outros.

(Reprodução de fotografia de Raymundo Corrêa da Silva, por João Vianna)

Raymundo casou duas vezes, a primeira aos 02 de setembro de 1865 em São Leopoldo com Carolina Diehl, ali nascida aos 11 de junho de 1848 (bat. 20-08-1848) e falecida aos 22 de abril de 1894, sendo filha de Johann Diehl (João Diehl), nascido em Badenheim ou Podendorf, Darmstadt, Alemanha e falecido a 09-03-1886, São Leopoldo, e de Maria Elisabeth Schmidt, nascida em 1822 em Podendorf e falecida a 31-12-1870 em Lomba Grande, São Leopoldo, neta paterna de Paul Diehl e Margaretha Frey, de Mainz, Alemanha, e, materna, de Johann Wilhelm Schmidt e Maria Margaretha Nieset.
Conforme apontam as pesquisas, Raymundo e Carolina não só residiram em São Leopoldo, mas também, durante alguns anos, em Santa Cristina do Pinhal, muito provavelmente em razão da construção da estrada de ferro de Taquara, cuja obra estava sendo executada pelos sobrinhos de Raymundo, João e Agnello Corrêa Ferreira da Silva. Contudo, em 1894, quando Carolina faleceu, o casal residia em São Leopoldo, onde era proprietário de uma casa de moradia, com uma porta e três janelas de frente, com cozinha e mais benfeitorias, edificada sobre um terreno na Rua 1 de Março, na quadra número 57, compreendendo o terreno de 180 palmos de frente e 400 ditos de fundos, divindindo-se pela frente com a dita Rua 1 de Março, pelos fundos com a Rua Coronel Bento Gonçalves, pelo lado sul com terreno de Felippe Dann e seus filhos e José Inocêncio Dias, pelo lado norte com o terreno de João Inácio de Andrade, João Frederico Sperb e Antônio Luiz Rodrigues da Costa, como consta do inventário de Carolina.
Raymundo e Carolina tiveram onze filhos:
F1- Maria Josefa Corrêa da Silva, n. 15-06-1866, São Leopoldo, onde faleceu aos 02-05-1899. Casou na mesma cidade a 03-01-1885 com Carlos Brack Filho, n. 19-10-1864, São Leopoldo, onde também faleceu a 27-07-1943, sendo filho de Karl Brack (n. 30-05-1822, Traben, Koblenz, Alemanha e fal. 14-01-1896, S. Leopoldo) e de Anna Barbara Reif (n. Zell, Mosell, Alemanha), n.p. Karl Wilhelm Brack e Elisabeth Drewer, n.m. Joseph Reif e Julianna Kochem, todos da Alemanha. Maria Josefa e Carlos geraram sete filhos: Arthur, Afonso, Olga, Guilherme, Carlos, José Carlos e Irma Brack, cuja descendência pode ser vista no site: http://www.chbrack.org/. Após o prematuro falecimento de Maria Josefa, o viúvo Carlos Brack casou-se em segundas núpcias com Elsa Carolina Presser (descendente dos Fischer), com quem teve mais oito filhos. Carlos era fabricante de móveis de vime.
F2- Raymundo João Corrêa da Silva, n. 17-11-1868 em São Leopoldo, onde casou a 14-07-1892 com Eleonora Henriqueta Haas (às vezes, Leonor Haas), n. 03-10-1873, São Leopoldo, filha de Felipe Haas e de Carolina Hoeffel, naturais de S. Leopoldo, n.p. Johannes Haas e Anna Margaretha Müller, naturais da Alemanha, n.m. Peter Hoeffel e Marianna Fritzen, também da Alemanha. O casal teve onze filhos: Maria Adolphina Alma, Maria Malvina, Maria Cândida (Mosquita), Júlia, Emma Jovitha, João Waldemar, Otília, Lino, Waldomiro, José (Zeca) e Waldir Corrêa da Silva.
F3- Germano José Corrêa da Silva, n. 12-02-1871 em São Leopoldo e falecido a 11-11-1938 em Taquara. Foi hoteleiro, proprietário do Hotel Corrêa, um dos primeiros de Tramandaí/RS. Casou a 10-01-1891, São Leopoldo, com Maria Augusta Burmeister, n. 03-08-1868, São Leopoldo e fal. 19-01-1969, Taquara, com 100 anos, 5 meses e 15 dias de idade, filha de Johann Carl Joachin Wilhelm Burmeister, ourives em São Leopoldo, n. 06-04-1836, Stralsund, Mecklenburg, Alemanha e fal. 30-03-1881, São Leopoldo, e de Maria Karolina Müller, n. 29-07-1835, Feitoria Velha (S. Leopoldo), n.p. Karl Donath Burmeister e Maria Lass, n.m. Johann Nicolaus Müller e Maria Katharina, todos da Alemanha. Germano e Maria foram pais de oito filhos: Afonso, Aura, Arlindo, Alzira, Maria Carolina, Elvira Amália, Waldomiro Carlos, Georgina Carolina Corrêa da Silva.
F4- José Corrêa da Silva, n. 31-07-1872 em São Leopoldo, onde fal. a 08-08-1872.
F5- Maria Carolina Corrêa da Silva, n. 20-04-1876, São Leopoldo e fal. 21-01-1951, Porto Alegre. Casou em São Leopoldo a 30-06-1894 com Carlos Daudt, n. 22-06-1851, S. Leopoldo e fal. 06-04-1923, Porto Alegre, filho de Mathias Daudt (*15-08-1815, Heimersheim, Alzey, Alemanha e fal. 04-08-1905, S. Leopoldo) e Maria Barbara Linck (*1820, Alemanha e fal. 06-08-1877, São Leopoldo), n.p. Johannes Daudt e Barbara Schumacher, n.m. Jacob Linck e Gertrud Klug, todos da Alemanha. Carlos Daudt, ao casar com Maria Carolina, era viúvo de Wilhelmine Maria Becker, com quem teve onze filhos (Wilhelmine Maria Becker, por sua vez, era filha de Philipp Becker e Carolina Krüger, esta filha de Carolina Henriette Marianne Koch com seu primeiro marido João Frederico Krüger). Carlos foi comerciante em Porto Alegre, onde era proprietário de uma casa de ferragens. Maria Carolina e Carlos foram pais de cinco filhos: Alfredo Rudolf, Alda Augusta, Victor Gualberto, Ilza Maria e Wanda Maria Corrêa Daudt.
F6- Frederico Alberto Corrêa da Silva, n. 15-01-1878, São Leopoldo e falecido a 13-05-1897 em Santa Maria, onde foi assassinado. Faleceu solteiro, sem descendentes.
F7- Arthur Corrêa da Silva (no batismo: Francisco Arthur), n. 16-12-1879, Santa Cristina do Pinhal e fal. 14-11-1936, São Leopoldo. Tio Arthur foi avaliador judicial, após, escrivão do Registro Civil de São Leopoldo. Casou a 28-02-1901, São Leopoldo, com Anna Bertha Mayer, n. 28-12-1883, São Leopoldo, onde fal. 18-09-1973, filha de Jacob Mayer e Katharina Kilpp. Anna Bertha Mayer era irmã de Maria Paulina Mayer, madrasta de Arthur. O casal gerou seis filhos: Maria Luiza Adolfina, Celina, Alzira, José Luiz, Maria Eugênia e Hertha Antonina Corrêa da Silva.
F8- Augusto Felipe Corrêa da Silva, n. 04-10-1881, São Leopoldo, onde faleceu com um ano de idade, aos 15-01-1883.
F9- Pedro Corrêa Ferreira da Silva (no batismo: Pedro Alfredo), n. 21-07-1883, São Leopoldo e fal. 04-03-1967, Porto Alegre. Foi capitão e Prefeito de Sapucaia do Sul. Casou com Eulina Schilling, n. 1875, Santa Cruz do Sul e fal. 20-01-1972, Porto Alegre, filha de Theodoro Frederico Schilling e Cacilda Ferreira da Silva. Pais de seis filhos: Mário, Remi, Zeli Eulino, Oly, Carolina e Suely Corrêa da Silva (nossa informante).
F10- Maria Luiza Santolina Corrêa da Silva, n. 25-03-1885, Santa Cristina do Pinhal e fal. Montenegro. Casou a 19-12-1908, São Leopoldo, com João Francisco Fischer, n. 04-10-1881, São Lourenço e fal. Porto Alegre, filho de Cristiano Fischer e Geraldina Lemes de Andrade. Pais de quatro filhos: Maria Geraldina, João, Florinda e Suely Fischer.
F11- Luiz Corrêa da Silva, n. 19-08-1886, São Leopoldo, onde fal. 05-08-1943. Ali casou a 17-05-1913 com Maria Sophia Martha Lütke, n. 25-04-1891, Berlim-Moabit, Alemanha e fal. 01-04-1969, São Leopoldo, filha de Friedrich Gustav Adolf Lütke e Wilhelmine Sophie Lisette Block. Pais de quatro filhos: Frederico, Ernesto, Guilherme e Luiz Corrêa da Silva (nosso informante).
Passado um ano do falecimento de Carolina Diehl, Raymundo Corrêa da Silva casou-se pela segunda vez a 18-05-1895 em São Leopoldo com Maria Paulina Mayer, ali nascida a 05-02-1869, onde faleceu a 22-02-1915, dias depois do marido. Maria Paulina era filha de Jacob Mayer e de Katharina Kilpp, aquele de São Leopoldo e esta de Stipshausen, Alemanha, e, ao casar com Raymundo, viúva de Jorge Loewe Filho, com quem teve a filha Elsa Carolina Loewe.
(reprodução da fotografia de Maria Paulina Mayer, por João Vianna):

Raymundo e Maria Paulina tiveram mais seis filhos, que seguem:
F12- Carlos Oscar Corrêa da Silva, n. 09-12-1895, São Leopoldo e fal. 03-03-1947, Taquara. Casou em Três Coroas em 25-06-1921 com Ida Goettert, nascida em 1900, filha de Jacob Goettert e Maria Lisete Land. Foram pais de cinco filhos: Carlos Waldemar, Hermínia, Cláudio José Flávio e Lúcia Corrêa da Silva.
F13- Maria Otília Corrêa da Silva, n. 17-03-1897, São Leopoldo, onde faleceu aos quinze anos de idade, a 16-11-1913.
F14- Julieta Corrêa da Silva (no batismo: Maria Júlia Olívia), n. 01-10-1900, São Leopoldo, e fal. 16-08-1988, Porto Alegre, onde casou a 02-09-1924 com João Luiz Pufal, n. 08-12-1892, Veranópolis e fal. 10-08-1957, Porto Alegre, filho de Jacob Pufal e Emilie Doppler. O casal residiu em Porto Alegre na Avenida São Pedro, sendo João Luiz construtor. Foram pais de quatro filhos: Pedro (meu avô), Paulo, Julieta e Beatriz Corrêa Pufal.
F15- João Waldemar Corrêa da Silva, n. 22-02-1902, São Leopoldo, onde faleceu aos quinze anos a 01-12-1917.
F16- Lino Guilherme Corrêa da Silva, n. 23-09-1903, São Leopoldo. Sem mais notícias.
F17- Ernani Corrêa da Silva (no batismo: Ernani Leopoldino), n. 15-11-1906, São Leopoldo e fal. Novo Hamburgo, onde casou a primeira vez em 1928 com Leonida Dienstmann, n. 09-06-1906, Campo Vicente e fal. 03-06-1937, tendo dois filhos: Ethel Luísa e Gilberto Gabriel Corrêa da Silva. Casou a segunda vez com Tecla Selmira Müller, com quem teve: Susana Elaine e Carmen Corrêa da Silva.







segunda-feira, 28 de julho de 2008

A família Corrêa da Silva (I) (de São Leopoldo)

A FAMÍLIA CORRÊA DA SILVA
Autoria de Diego de Leão Pufal
[atualizado em 25/11/2013]

A família Corrêa da Silva teve início, no Rio Grande do Sul, com a vinda de José Corrêa Ferreira da Silva do Arquipélago dos Açores, Portugal. O patriarca nasceu a 25 de setembro de 1798 na freguesia de Santa Cruz da Ilha Graciosa, Açores, onde foi batizado no dia 08 de outubro do mesmo ano, sendo seus pais: José Corrêa da Silva (às vezes José Corrêa de Mello) e Rosa Joaquina da Trindade (ou também Rosa Joaquina de Jesus, dos Santos ou dos Cherubins), ambos da mesma ilha.
Em meados de 1811, José Corrêa Ferreira da Silva, então com treze anos de idade, deixou sua cidade natal, chegando no mesmo ano ao Brasil agregado à família de João de Quadros Bittencourt, sua esposa, Maria Rosa de Santo Antônio e seus quatro filhos: Manuel, Rosa, Antônio e Maria do Carmo de Quadros Bittencourt. O itinerário e datas da imigração foram declarados pelo próprio José Corrêa quando se habilitou para casar com a mencionada Maria do Carmo, em 1820 (proc. n.º 84/1820 - AHCMPA), ao referir que saiu dos Açores com a “idade de treze annos, pouco mais ou menos, vindo pela Bahia, e logo para o Rio de Janeiro, cidade de depois de dois meses veio para esta terra (Porto Alegre) onde estive alguns tempos, ultimamente se passou para a Freguezia Nova (Triunfo) onde he morador ...", acompanhado da família de sua então futura esposa.
No ano seguinte, em 1821, José e Maria do Carmo já estavam residindo em São Leopoldo, onde batizaram a primeira filha, que levou o nome de Zeferina, seguida pelos irmãos João, em 1823; Veríssimo, em 1824; Manuel, em 1827; Maria do Carmo, em 1830; José, em 1832 e Florisbela, em 1837.
Neste mesmo tempo, em 1835, a Revolução Farroupilha teve início, repercutindo em todo o Estado e fora dele, inclusive em São Leopoldo. Embora se saiba que José Corrêa Ferreira da Silva tenha participado da “revolta”, o papel por ele desempenhado é ainda muito nebuloso, pois apenas se conseguiu apurar que lutou ao lado dos imperiais, sendo, ao menos em 1837, inspetor do sétimo quarteirão de São Leopoldo, quando apreendeu armamentos em poder de alguns colonos alemães. Ainda em meio à Revolução, entre 1837 e 1840, a esposa de José veio a falecer, pois se sabe que, em princípios de 1840, ele já vivia maritalmente com a sua futura segunda esposa, a alemã Carolina Georgina Henriquetta Koch.
Carolina G. H. Koch, por sua vez, nasceu no ano de 1805 em Herzog, no Ducado de Julius-Hutte, Goslar, Hannover, Alemanha, onde se casou com João Frederico Krüger, emigrados em 1825 para o Brasil. Deste casamento nasceram cinco filhos: João Frederico, Carlos Augusto, João Daniel Luiz, Carolina Krüger e Reginaldo Ignácio Krieger, entre os anos de 1827 a 1833. João Frederico Krüger foi um dos principais colonos alemães que participou ativamente da Revolução Farroupilha em desfavor do Governo Imperial, tanto que foi preso em duas oportunidades, a primeira em junho de 1836 e, a segunda, em janeiro de 1837, quando mandado para o Rio de Janeiro[1]. Na ausência do marido, Carolina batizou na igreja evangélica de São Leopoldo um filho de nome Luiz Emmanuel em 1835, dado como filho natural.
A partir de 1840, como referido, José e Carolina passaram a conviver como se casados fossem, pois não poderiam regularizar a situação, já que até então não sabiam se João Frederico Krüger estava vivo ou não, à míngua de qualquer notícia sobre o seu paradeiro. José e Carolina apesar de terem tido mais quatro filhos entre 1841 e 1848, apenas vieram a se casar pela igreja católica em 18 de fevereiro de 1855, em São Leopoldo. Não obstante a tais fatos, o censo realizado pelo Dr. Daniel Hillebrand, médico e mais tarde diretor da Colônia Alemã do Rio dos Sinos, entre 1846-1848, aponta que residiam no segundo quarteirão da Vila de São Leopoldo, dentre outros: José Corrêa Ferreira da Silva, 55 anos, negociante, viúvo; José Corrêa da Silva (filho, 15 anos); Raimundo Corrêa da Silva (filho, 3 anos); Saturnina Corrêa da Silva (filha, ½ ano); além de três escravos: Lisaria, com 33 anos; Maria, com 12 anos e João, com 4 anos, ao passo que Carolina consta como moradora no referido quarteirão, porém, em casa de um dos seus filhos Krüger.
Já em 1855, por ocasião do casamento de José e Carolina, realizaram um contrato de casamento, registrado no Tabelionato de Notas de São Leopoldo, nos termos seguintes:
Escriptura de carta de arras que foram José Corrêa Ferreira da Silva, Carolina Jorgina Henriqueta de contrato de casamento e dote.
Saibão quanto este público instrumento de contracto de casamento, dote e arras vivem, que no ano do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e cincoenta e cinco anos aos dezessete dias do mês de fevereiro do dicto ano, nesta villa de São Leopoldo em meu cartório comparecerão presentes as partes havidas e contratadas, de uma com autorgante José Corrêa Ferreira da Silva, e de outra autorgada Carolina Jorgina Henriqueta, todos moradores desta villa e reconhecidas de mim pelos próprios nomeados do que dou fé, esperando as testemunhas abaixo nomeadas e assinadas por ambos os contraentes me foi dito, que se achando ambos no estado de viúvo, e cada um com cinco filhos do primeiro matrimônio, e tendo vivido ambos a mais de quinze anos em comum e de baixo do mesmo telhado, e querendo passar a uma vida mais regular e satisfatória ao Público e leis sociais, tem deliberado ambos tomarem novo estado a face da Igreja Catholica com as condições seguintes: Que ele José Corrêa Ferreira da Silva receberá a Carolina Jorgina Henriqueta por sua mulher na Igreja Cathólica, o mais breve que for possível, que de cujo matrimônio não haverá comunicação de bens, e nem tão pouco ele José Correia ficará obrigado a dívidas, contratos ou o que o casal do defunto Krüger se ache compromettido de cumprir, pois que nenhum bens deixam e existe para fazer parte deste contrato. .... elle outorgante José Corrêa data a sua futura mulher para que por sua morte passe a seus herdeiros, huma morada de casas que na rua Sacramento nesta villa com frente o leste, o terreno da mesma casa e centro imediato, assim como uma crioulinha de nome Rosa, que terá três anos de idade, tendo no valor a quantia de um conto de réis, sem que seus herdeiros possam mais nunca alegar ou herdar coisa alguma. Que no caso de falecimento dele outorgante ser primeiro, tendo ela outorgada de sobreviver, além do que é ... deixar a sua terça como sua universal herdeira, pelos bens serviços que lhe são prestados e amizade que lhe consagro: Que do ajuntamento que tem havido entre ambos um filho de nome Raimundo, que terá nove á dez anos os quais ambos reconhecem por seu filho e herdeiro
.”[2]
Pouco tempo depois José fez parte da vereança de São Leopoldo, conforme noticiou Germano O. Moehlecke, no livro “São Leopoldo era Assim”, ao informar que da instauração da quarta Câmara de Vereadores, instalada em 07.01.1857, teve ela como presidente: José Corrêa Ferreira da Silva, mesmo cargo que assumiu em 1869.
Em 24 de janeiro de 1874 José Corrêa Ferreira da Silva veio a falecer em São Leopoldo, tendo sido sepultado no cemitério Municipal. O seu inventário foi autuado em 1875, quando declarados os seguintes bens: uma casa situada na Rua do Fogo em São Leopoldo, contendo 45 palmos de frente e 60 palmos de fundos, com duas portas e duas janelas de frente, edificada sobre um terreno com fundos de 150 palmos, dividindo-se por um lado com a casa de Jacob Brass e por outra com a de Mathias Daudt, e pelos fundos com terrenos de D. Catharina Dittmar, avaliada em 4:000$000 (no curso do processo a então inventariante, Carolina Koch, requereu a juntada de um contrato feito em 01/12/1858, respeitante a uma permuta feita pelo casal José e Carolina com Ludwig Bäckel e esposa, cujo objeto era a troca da casa da Rua do Fogo com outra sita na Rua do Sacramento, a qual após foi partilhada); um escravo crioulo de nome Francisco, com 23 anos; três mesas, dois bancos, doze cadeiras, um relógio, um armário pequeno de roupas, duas talhas para água e utensílios de cozinha.
Carolina veio a falecer quatorze anos depois do marido, em 13 de abril de 1888, com oitenta e três anos de idade, deixando, de seu segundo casamento, apenas o filho Raymundo, visto que os demais faleceram em tenra idade.
Da vida de José Corrêa Ferreira da Silva pouco se conseguiu descobrir, em que pese a existência de vários diários por ele deixados, conforme relatos de muitos parentes, aos quais, todavia, não se teve acesso até o momento.
Os descendentes de José e suas duas esposas superam hoje, seguramente, mais de mil pessoas, não só no Estado do Rio Grande do Sul, mas também em outros Estados do país. Apenas para ilustrar, segue uma pequena e resumida síntese das primeiras gerações:
*Do casamento de José Corrêa Ferreira da Silva com Maria do Carmo houve os filhos:
1.1 Zeferina Maria do Carmo, *15/09/1821, bat. 30/09, São Leopoldo. Casou com Manuel José da Câmara, filho de João Antônio de Souza e Maria Angélica de Jesus. É de estranhar o fato deste casal ou descendentes não constar no inventário de José Corrêa Ferreira da Silva, o que faz supor tenham falecido sem geração antes do pai e sogro. Além disso, em 1848, por ocasião do censo realizado pelo Dr. Daniel Hillebrand, não constam como residentes na Colônia Alemã do Rio dos Sinos.
1.2 João Corrêa Ferreira da Silva, *1822/1823, São Leopoldo. Casou a 11/12/1876 em Tupandi/RS com Maria Rosa de Jesus (nos demais registros, apesar de se tratar da mesma pessoa, Maria Filena da Cunha) *Santa Catarina ou Montenegro, filha de Fileno Francisco da Cunha ou Antônio Fileno da Cunha, natural de Santa Catarina e Ana Maria Antônia de Jesus, natural de Santa Catarina (às vezes, Francisca). Em 1848, por ocasião do censo realizado pelo Dr. Daniel Hillebrand, João não consta como residente na Colônia Alemã do Rio dos Sinos. Em 1875, João Corrêa era residente em Montenegro. Encontrou-se sete filhos deste casamento, com descendência em Montenegro, Harmonia, Capela de Santana, Bom Princípio e Tupandi.
1.3. Veríssimo Corrêa Ferreira da Silva, *29/01/1824, bat. 14/02, Capela Santana. Provavelmente tenha falecido em tenra idade, pois o seu nome ou de prováveis descendentes não constam do inventário paterno.
1.4. Manuel Corrêa Ferreira da Silva, *08/12/1827, bat. 26/12, Capela de Santana. Foi tenente e faleceu a 02/03/1866 na Guerra do Paraguai. Casou a 28/10/1860, Santa Maria, com Juliana Luiza Sonnet, *1844, Cachoeira do Sul ou Santa Maria, e falecida em São Leopoldo, filha do sapateiro Bartolomeu Sonnet (*1820, Kreuznach, Alemanha) e de Christina Feldmann (*1827, São Leopoldo/RS). Manuel e Juliana deixaram três filhos: 2.1. Josefina Corrêa da Silva casada com o francês Gustav Maynard, com quem teve sete filhos, com descendência em Porto Alegre; 2.2. João Corrêa Ferreira da Silva, o conhecido João Corrêa que não só construiu várias estradas de ferro no Rio Grande do Sul, como também foi um dos desbravadores de Canela, onde foi Intendente Municipal (Prefeito), assim como de São Leopoldo, dando nome às ruas destas cidades e também nas cidades de Novo Hamburgo e Sapiranga. João Corrêa casou-se com Maria Luiza Frederica Burmeister, com quem teve oito filhos; de outro relacionamento com Bertha Hoffmann, houve mais seis filhos. 3.3. Agnello Corrêa da Silva. Foi engenheiro e sócio do irmão João Corrêa nas estradas de ferro. Casou-se com Amália Paust, com quem teve oito filhos.
1.5. Maria do Carmo da Conceição, *26/02/1830, bat. 25/03, São Leopoldo, tendo casado nesta mesma cidade, com 14 anos, a 01/10/1844, com Mathias Rodrigues da Fonseca, *1822, Freguesia de Figueiro, Portugal, filho de Lourenço Rodrigues da Fonseca e Rosário Fonseca de Jesus. Em 1848, por ocasião do censo realizado pelo Dr. Daniel Hillebrand, constam como residentes na Colônia Alemã do Rio dos Sinos, mais precisamente no “Campo Ocidental”: Mathias Rodrigues, com 26 anos, lavrador e português; sua esposa Maria do Carmo da Conceição, com 19 anos; os filhos José Rodrigues, com 03 anos e Maria do Carmo da Conceição, com 01 ano. Já 1859 moradores no Forromeco, em São Sebastião do Caí. O casal teve onze filhos que seguiram com o sobrenome “Rodrigues da Fonseca”, com descendência principalmente em Bom Princípio e cidades vizinhas. Deste casal descendem alguns membros das famílias: Chassot, Luft, Fonseca Ely, Bins Ely, Selbach, Kerber, Flach e outros.
1.6. José Corrêa Ferreira da Silva Filho, *29/10/1832, bat. 20/01/1833, São Leopoldo. Foi major do exército. Casou com Margarida Antônia de Freitas, *Cachoeira do Sul e falecida entre 1902/1912, Cachoeira do Sul, filha de Antônio José de Farias e Brígida Maria de Jesus. Em 1875, quando do inventário paterno, José Corrêa da Silva era morador em Cachoeira do Sul. Em 1848, por ocasião do censo realizado pelo Dr. Daniel Hillebrand, consta José Corrêa da Silva, com 20 anos, de profissão curtidor, residente no Campo Ocidental da então Colônia Alemã do Rio dos Sinos. O casal gerou doze filhos, todos com descendência em Cachoeira do Sul.
1.7. Florisbela Maria do Rosário (ou também Florisbela Maria Corrêa Ferreira da Silva e, ao casar, Bella Maria da Conceição), *08/12/1837 e bat. 10/04, São Leopoldo e falecida a 26/08/1907, no Rincão dos Ilhéus, Novo Hamburgo. Casou a 20/08/1850, São Leopoldo, com seu primo segundo, Veríssimo Thimoteo (José) da Costa, *21/08/1828 e bat. 28/09, São Leopoldo, filho de Thimoteo José da Costa, natural da freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe da Ilha Graciosa, e de Rosa Maria da Conceição ou do Rosário (esta tia de Florisbela Maria), *23/11/1808, na Freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe da Ilha Graciosa; n.p. Antônio José da Costa e Maria do Rosário, ambos naturais da Ilha Graciosa; n.m. João de Quadros Bittencourt e Maria Rosa do Espírito Santo. Em 1861, moradores no Rincão dos Ilhéus, Novo Hamburgo, onde se fixaram. O casal foi pai de treze filhos que seguiram os sobrenomes: “Thimoteo da Costa”; Thimoteo ou somente Costa, com larga descendência em Novo Hamburgo.
*Do casamento de José Corrêa Ferreira da Silva com Carolina G. H. Koch houve os filhos:
1.8. Josefa Corrêa Ferreira da Silva, *26/03/1841, bat. 09/05/1842, São Leopoldo, onde faleceu com cinco anos de idade, aos 08/12/1846.
1.9. Inocêncio Corrêa Ferreira da Silva, *16/09/1843, bat. 02/12/1843, São Leopoldo, onde faleceu com menos de um ano, aos 03/05/1844.
1.10. Raymundo Corrêa Ferreira da Silva ou somente Raymundo Corrêa da Silva, *30/08/1845, bat. 09/11/1845, São Leopoldo, onde faleceu a 09/02/1915. Desempenhou vários cargos públicos na então vila de São Leopoldo, onde foi delegado de polícia, tenente-coronel, subintendente (vice-prefeito) do 1° Distrito de São Leopoldo, presidente do Conselho da Instrução Pública, juiz de paz, dentre outros. Casou duas vezes, a primeira com Carolina Diehl, com quem teve onze filhos, e, a segunda, com Maria Paulina Mayer, com quem teve seis filhos (dentre eles: Julieta Corrêa da Silva, minha bisavó), cujas descendências serão tratadas oportunamente.
1.11. Saturnina Corrêa Ferreira da Silva, *1º/06/1848, bat. 01/11, São Leopoldo, onde faleceu com menos de três anos de idade, aos 14/01/1851.
***
[1] Mais informações da história e genealogia da família Krüger, vide no site: www.kruger-krieger.com/ e neste blog: http://pufal.blogspot.com.br/2012/11/alemaes-no-rs-os-krugerkrieger.html
[2] Conforme consta no inventário de José Corrêa Ferreira da Silva, autuado em São Leopoldo, em 1875 (n.º 655, maço 23, estante 71, cartório 1º órfãos, Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul) 

sábado, 26 de julho de 2008

O Theatro Orpheu (Cine Astor)

O Theatro Orpheu

autoria de Diego de Leão Pufal

[atualizado em 30/06/2012]
O Theatro Orpheu na década de 1920 - fotografia
de João Luiz Pufal
O Theatro Orpheu, depois Cine Astor, localizava-se na Avenida Benjamin Constant, n.° 1.891 em Porto Alegre. Foi inaugurado em 06 de outubro de 1923. O prédio que o abrigava foi projetado por Eduardo Pufal e construído por seu irmão, o engenheiro-construtor João Luiz Pufal (1892-1957), a pedido de Miguel e Vitor Alexandre Mendelski, então proprietários da empresa Mendelski & Irmão.
Interior do Theatro Orpheu, possivelmente em 1928, ano em que feito
o filme Rapsódia Húngara [do acervo de Gerson A. Pufal]

Fotografia de 2007, por Diego de Leão Pufal - mostra detalhe
da janela superior do prédio 
Durante anos foi considerado um dos maiores cine-teatros de Porto Alegre, servindo por décadas como atração e divertimento aos moradores dos Bairros Floresta e São Geraldo, até o encerramento de suas atividades setenta anos após, em 1993.

Fotografia de 2007
Tanto a arquitetura do prédio, como a memória cultural incorporada à saudosa existência do Cine Astor, constituem verdadeiros símbolos desses bairros, assim como da própria história de Porto Alegre. Apesar de sua fachada ter sido tombada como patrimônio cultural do município, além de firmado um termo de ajustamento de conduta entre os seus atuais proprietários e o Ministério Público Estadual em 2002 – objetivando a preservação da fachada por meio de um trabalho de escoramento –, a estrutura ainda corre risco de desabamento.
           Diante do abandono e suas conseqüências, a Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural e o Conselho Municipal de Patrimônio Histórico estão analisando a viabilidade da manutenção ou não da fachada, o que se dará por meio de audiência pública, conforme anunciado há alguns meses pela mídia.
          Espera-se que a solução seja pelo restabelecimento do prédio, não só como forma de manter a história do bairro e da cidade, mas também para preservar a memória de seus construtores e proprietários.

Alemães no RS: Família Fauth - fotografias

Alemães no RS: família Fauth - fotografias (1)
autoria de Diego de Leão Pufal

Embora não se tenha ainda encontrado nenhuma fotografia de Heinrich Philipp Fauth, consegui algumas de seus filhos e netos. A primeira que se segue foi-me passada por uma pesquisadora da família Petry, as três seguintes, por D. Hilda Fischer Düring e por Ery Fischer, ambos netos de Paulina Fauth e Philipp Fischer. As últimas três, por Pedro Almiro Fauth, bisneto de August Fauth e Clementine Schmitt.


Catharina Timm (1861-1940) e Friedrich Fauth (1857-1906)




Philipp Nicolaus Fischer (1848-1911) e Paulina Fauth (1855-1933)




Paulina Fauth (1855-1933) (c/c Philipp Fischer)




Philipp Nicolaus Fischer (1848-1911)






August Fauth (1867-1916)







August Fauth, esposa e filhos



Armazém de Clementine Schmitt Fauth, viúva de
August Fauth, Campo Bom, 1923

Outras fotografias da família Fauth podem ser conferidas no sítio de Joana Defferrari, no endereço eletrônico: http://www.colono.com.br/, assim como parte de sua genealogia, também publicada no sítio: http://www.interagentraders.com/cgi-bin/geneweb.cgi?b=StrassburgerFauthSmeets260507;lang=pt-br, de Ivo Strassburger e Pedro Almiro Fauth.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Mário da Silva Brasil (II)


MÁRIO DA SILVA BRASIL
- biografia -
autoria de Diego de Leão Pufal

Dando continuidade à vida de Mário da Silva Brasil, meu bisavô, transcrevo a biografia por ele deixada, datada de 06 de setembro de 1950, que me foi passada por sua filha (minha tia-avó) Carmem Brasil. Além de retratar a infância em Santa Maria, o caminho acadêmico percorrido, dentre outros fatos, revela parte da história da Escola de Engenharia de Porto Alegre (da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), não só por integrar a primeira turma de alunos, mas também por ter sido, por longos anos, professor catedrático da Casa.
(Foto: formandos da primeira turma de alunos engenheiros, eletrecistas e mecânicos do Instituto de Electro-Techinca de Porto Alegre - Escola de Engenharia, UFRGS, 1912. Diretor: D.J.J. Pereira Parobé; Secretário: Dr. João Ferlini; Paranympho: Dr. Harry Rees; engenheiro chefe: Dr. Diógenes Tourinho; homenagem ao prof. Dr. João Simplício. Formandos: Antônio T. Leite, de Jaguarão; João K. Lima, de Pelotas; Mário da Silva Brasil, de Santa Maria; Normélio Ferreira, de Gravataí; Maurício Legori, de Porto Alegre, e Homero Miranda, de Santa Maria.)
Na transcrição da biografia de Mário da Silva Brasil respeitou-se a grafia da época, tal qual consta no original:

"Minha Biografia MÁRIO DA SILVA BRASIL
“Nasci a 2 de março de 1889 no lugar denominado Passo do Raimundo, a três léguas da cidade de Santa Maria, na casa de meus avós paternos. Minha avó que se chamava Francisca de Oliveira Brasil, não cheguei a conhecer, pois morreu a 14 de fevereiro de 1890, com 50 anos de idade, isto é, quando eu contava apenas 11 meses. Fora uma excelente esposa e mãe carinhosa. Sua mãe adotiva, Mathilde da Costa Pavão, foi uma senhora cheia de virtude cristã e caridade. Meu avô, João Thomaz da Silva Brasil, era filho de Santo Antônio da Patrulha, onde nasceu em 1824, sendo seus pais Anacleto José Gonçalves, português de nascimento e falecido em Cruz Alta em 1835 e Tomazia Rodrigues da Silva.
O meu avô, que viera ainda criança, com 11 anos, para Santa Maria, aí se fez homem, casando-se em 1857. Dedicou-se ao comércio, tendo adotado por essa ocasião o sobrenome Brasil por haver no lugar um outro negociante seu homônimo. Em 19 de maio de 1858 foi eleito vereador da 1ª Câmara Municipal, como refere Hemetério José Veloso da Silveira, em sua obra sobre as Missões Orientais, ás pgs.596 e João da Silva Belém, em sua História do Município de Santa Maria, ás pags. de número 108, 110, 113, 114, 119 e 122, sendo designado com outro vereador para organizar o Código de Posturas do Município. Terminado o mandato em 1860, foi eleito juiz de paz do 1º distrito para os períodos de 1861-64, 1873-76 e 1877-80, sendo novamente eleito vereador da 3º câmara para o quatriênio de 1865-68. Desempenhou ainda o cargo de promotor ad-hoc, além de outras representações públicas.
Alguns anos depois mudou-se para o Passo do Raimundo, onde se fez agricultor. Homem inteligente e imaginoso, montou um engenho de cana para a fabricação de álcool, assucar e seus derivados, além de uma cantina cujas máquinas ele mesmo inventou e fabricou. Durante muitos anos trabalhou nestas indústrias com bons resultados, abandonando-as depois, devido à idade. Faleceu em 15 de junho de 1904, com 80 anos de idade, deixando 11 filhos, sendo o mais velho o meu pai, José da Silva Brasil, nascido em 8 de novembro de 1858.
A meia légua da casa de meus avós paternos moravam meus avós maternos. A minha avó, que se chamava Maria Francisca de Oliveira, era sobrinha do bravo almirante Barroso que legou um nome à Pátria, cobrindo-se de glórias na guerra do Paraguai. Faleceu no ano de 1911, com 72 anos, tendo deixado 10 filhos, sendo minha mãe, Maria Alves Brasil, a única mulher, nascida em 13 de agosto de 1869.
O meu avô, Benedito Alves de Oliveira, a quem conheci assim como á minha avó, foi negociante e criador, tendo falecido em 2 de março de 1916, com 80 anos de idade. Meus pais, que casaram em 13 de maio de 1888, vieram morar em casa de meus avós paternos, onde nasci e me criei até a idade de 9 anos em companhia de meus padrinhos, irmãos de meu pai: Vergílio e Maria José Brasil. Ali passei os primeiros anos de minha infância feliz e descuidosa e lembro-me, perfeitamente, dos sustos e terrores que os prodromos do movimento revolucionário de 1893 produziram.
Cerca de 2 anos depois do casamento de meus pais, Júlio de Castilhos, que tinha sido companheiro de estudos de meu pai, em Santa Maria, e que o tinha como amigo, nomeou-o para o lugar de professor público da então Colônia Silveira Martins, para onde se transferiu com a família. Aí passei algum tempo, tendo depois voltado para companhia de meus padrinhos. Em 1898, meu pai foi novamente distinguido, pelo então presidente do Estado e seu antigo colega, com uma nova nomeação: a de escrivão de órfãos e ausentes do termo de Santa Maria. Deixando o magistério, que havia exercido durante 5 anos com verdadeiro devotamento e inteligência, tanto que grangeou a estima de todos os colonos, entre os quais deixou verdadeiras afeições, veiu meu pai com a família, agora bem aumentada, para Santa Maria afim de tomar posse do novo cargo. Logo que se instalou convenientemente, mandou-me buscar afim de me por no colégio.
Foi meu primeiro professor o velho educacionista Antero Gonçalves de Almeida, falecido em Porto Alegre a 1-8-1933. Um ano depois, isto é, em 1900, passei a frequentar o colégio mantido pelo ilustre professor Dr. Alfredo Clemente Pinto, falecido no Rio de Janeiro em 21-1-1938 com 81 anos de idade, mas durante estes 2 primeiros anos de estudos muito pouco aprendi. Em seguida fui aluno da escritora Andradina de Oliveira, falecida em 6-8-1933 em S. Paulo, e do extinto professor Benvindo Pires de Sales, com os quais aprendi mais alguns rudimentos. Mas foi só em 1902 que, entrando novamente para a escola do professor Gonçalves de Almeida, fiz verdadeiramente algum progresso. Em 1903, além das aulas da manhã, comecei a frequentar as da tarde, dadas a uns poucos alunos, mediante uma módica mensalidade e tal foi meu progresso, principalmente em matemática, que nesse mesmo ano tive o meu primeiro aluno dessa disciplina, o professor público Afonso Fontoura, homem já bastante idoso e que pouco depois falecia.
No ano seguinte, tendo os Irmãos Maristas se estabelecido em Santa Maria com o colégio S. Luiz, meu pai colocou-me ali, onde fui admitido no 1º ano do curso secundário, após exame prévio. Aplicado aos estudos, desde logo comecei a distinguir-me entre os demais colegas, especialmente em matemática e ciências, encontrando, porém, muita dificuldade em línguas. Diante disso procurei esforçar-me para vencer os embaraços que encontrava não só escrevendo artigos para os jornaizinhos da época, entre os quais tive alguns com vários companheiros, como escrevendo discursos que pronunciava em ocasiões oportunas. Nunca, porém, cheguei a vencer completamente essa dificuldade. Foi por essa época que se deram os incidentes mais interessantes de minha vida. Lembro-me perfeitamente das disputas que surgiram entre alguns dos meus conterrâneos por questões jornalísticas e que terminaram, as mais das vezes, em luta franca, às quais, nem sempre, eu fui estranho.
Como fosse o primogenito, entendia que os meus irmãos mais novos me deviam obedecer e, um dia, em que apliquei em corretivo a uma irmã que havia feito qualquer arte, esta foi se queixar a meu pai que, por uma orelha, me levou até a porta da rua, mando-me embora. Melindrado com isso, retirei-me a pé, para a casa de meu avô, no Passo do Raimundo, a 3 léguas de distância. Ao cabo de 3 dias, não tendo sido encontrado, grande susto e aflição causei a meus pais, desta vez, porém, não me quizeram aplicar a correção devida. Ao mesmo tempo que estudava, dava lições a diversos rapazes e desse trabalho tirava dois proveitos: o de encontrar maior facilidade nos estudos e o de ganhar o suficiente para as minhas despesas pessoais.
Mas de outros recursos também eu me valia para obter o dinheiro de que necessitava. Assim pelo tempo do carnaval, eu confeccionava limões de cheiro que mandava vender por um criadinho da casa; em outras ocasiões fabricava balas ou ainda mandava vender amendoim que eu mesmo torrava e empacotava. Muitas arminhas de fogo, feitas por mim, de cano de guarda-chuva, eu vendi aos meus companheiros de brinquedos, e, desde certa vez que minha mãe foi ferida, sem gravidade, no rosto, por um tiro casual de uma pistolinha, por culpa de um serviçal da casa, nunca mais quis saber delas. As festas de S. Pedro e S. Paulo como as de S. João davam-me também ensejo de ganhar bom dinheiro com a venda de balões que eu mesmo fazia, encontrando ainda outras fontes de receita como a fabricação de sacos de papel para armazens, etc.
Em 1905 instalou-se o Ginásio Santa Maria com os elementos do colégio S. Luiz, estava eu então no 2º ano que fiz com a mesma facilidade do ano anterior. Querido e distinguido por meus mestres, encontrava nisso novos estímulos para os estudos, conquistando assim o 1º lugar entre os demais colegas que, verdade seja dita, eram também meus valentes competidores. Venci assim, ano por ano, todo o curso ginasial que terminei em 1909 com um grande número de notas distintas e tendo obtido os melhores prêmios.
Nos últimos anos já escrevia na imprensa da minha terra natal, tendo muitos dos meus artigos e poesias merecido a honra de transcrições em diversos jornais do Estado e até fora dele. Em fevereiro de 1910 vim para Porto Alegre a fim de me matricular na Escola de Engenharia, como era meu vivo desejo. Faltando-me, porém, completamente os recursos necessários, tive a felicidade de encontrar um amigo, o Sr. Marciano Cidade, já falecido, que me acolheu em sua casa, onde estive os 3 primeiros meses de minha estadia na Capital. Era então presidente do Estado o provecto riograndense Dr. Carlos Barbosa Gonçalves, a quem me dirigi a fim de conseguir uma matrícula gratuita na Escola e a quem expus sinceramente o meu desejo. Não podendo me atender por já ter indicado 4 nomes ás vagas a que tinha direito, tal empenho fiz e tal interesse demonstrei pelo que pretendia, que não lhe foi possível mais negar-me a sua proteção, conseguindo assim o meu ingresso na Escola de Engenharia.
Fui admitido, mediante a apresentação de meu diploma de bacharel em ciências e letras, diretamente no 2º ano do curso de Engenharia Eletro-técnica, feito então em 4 anos. Devido ao brilhante resultado das minhas primeiras sabatinas, que fiz com distinção, fui convidado pelo Dr. Barbosa a comparecer a Palácio e dele recebi felicitações e palavras de encorajamento, dizendo-me estar satisfeito por ter atendido às minhas pretensões. Em breve tornei-me conhecido e comecei a lecionar particularmente, trabalho este que me dava o suficiente para cobrir todas as minhas despesas. Venci galhardamente o 2º ano do curso tendo conseguido o 1º lugar entre os meus colegas, apesar do tempo que empregava em outras ocupações. No fim do ano tive a satisfação de ser abraçado e felicitado, após os exames de Física e Química, que tirei com distinção, pelos meus ilustres e hoje extintos professores Drs. Benito Elejalde e Luiz Englert.
Em fevereiro de 1911, matriculei-me no 3º ano, continuando a lecionar particularmente e a escrever para a imprensa, como o vinha fazendo desde muito tempo. Devido ao trabalho excessivo adoeci, emagrecendo e tal foi o estado de fraqueza e de desanimo em que fiquei que, julgando-me perdido, com a alma alanceada pela dor e pela desesperação, num momento de profundo acabrunhamento, escrevi:
Embora eu absorva e beba atento
As lições que dos mestres tenho a flux,
Muito embora eu aspire a casta luz
Da ciência que ilumina o pensamento,

Não sou feliz, porque, neste momento,
Trago o fel que também tragou Jesus
E nos ombros carrego a eterna cruz,
O lenho do martírio e do tormento.

O escabrosa vereda do presente!
Quero subir-te, mas me não consente
O meu herculeo esforço soberano!

Quero galgar-te, mas sou fraco e pobre!
E o meu intento tão sublime e nobre
Vejo tombar, meu Deus, que desengano!

Felizmente, pude em pouco tempo restaurar as forças, voltando com ardor ao trabalho. Conclui assim o 3º ano com os mesmos resultados do anterior, tendo obtido o primeiro lugar nos exames. Por essa ocasião tive, por intermédio do Dr. Benito Elejalde, um convite da Cia Aliança do Sul para ir trabalhar naquela casa que me oferecia ainda um ano de estágio na Alemanha para me aperfeiçoar, mas dias antes o diretor do Instituto de Eletro-Técnicas, Dr. Diogenes Monteiro Tourinho, me havia convidado para trabalhar na Escola de Engenharia na qual, me disse ele, deviam ficar os seus melhores alunos, motivo porque aceitei o convite.
Livre das obrigações acadêmicas, abalei para Santa Maria afim de, em companhia de meus pais, passar as férias que bem merecidas eram, além de serem as últimas que teria como estudante. É bem fácil imaginar a satisfação que encontrei da parte de meus pais com os meus triunfos, aliás sempre manifestados exuberantemente em todas as outras ocasiões em que vencia uma nova etapa. Terminadas as férias, voltei para a Capital a fim de fazer o 4º e último ano do curso. Como os dois anteriores, venci-o facilmente, conquistando ainda o 1º lugar. Em 13 de novembro embarquei para o Rio de Janeiro em companhia de meus colegas e do Prof. Harry P.Rees, em viagem de estudos, visitando na Capital Federal e em S. Paulo as grandes usinas hidro-elétricas da Light and Pouwer e em Santos a de Itatinga. Guardo ainda imperecível lembrança dessa esplêndida viagem. Na volta, em fins de Dezembro, tratei de fazer minha tése que defendi no princípio do ano seguinte, isto é, em 1913.
Em 17 de março desse mesmo ano, ingressei na Escola de Engenharia como professor de diversas cadeiras e no cargo de engenheiro - auxiliar do então Instituto de Agronomia e Veterinária. O primeiro trabalho que fiz foi a instalação de luz e força para o estabelecimento e edifícios anexos. Achando-me, então, em condições de constituir família, escrevi a meus pais pedindo-lhes conselhos e sugestões. Tive a ventura de me ser inspirada por eles a escolha de minha futura companheira, escolha que sempre bendigo porque nela encontrei toda a felicidade de minha vida. Foi assim que casei em S. Gabriel a 4 de setembro de 1915, com minha prima Celina Laureano da Silva, nascida em 5 de setembro de 1898 no município de Santa Maria, filha de um primo - irmão de minha mãe, João Laureano da Silva e de Placidina Martins da Silva, falecida em 28 de julho de 1921, com 44 anos de idade, pois nascera a 10-10-1877. Foi minha sogra um verdadeiro modelo de esposa e mãe extremosa. O meu sogro, que nasceu em 10-5-1872 e faleceu em 24-3-1936, foi um camponês leal e honrado que, durante muitos anos se dedicou á criação no município de S. Gabriel. Seu pai, de quem tomou o nome, faleceu em 1872 e sua mãe, Francisca Alves de Oliveira, filha de João Mariano de Oliveira e Ignácia de Oliveira, falecida em abril de 1937 com 83 anos de idade, é tia de minha mãe, pois é irmã de meu avô materno. Os pais de minha sogra foram Plácido Martins Alves, falecido em 1923 com 80 anos mais ou menos e Belarmina Francisca da Silveira, falecida em 1930 com a mesma idade, aproximadamente.
Logo que casei, fui morar nas proximidades do Instituto de Agronomia e Veterinária onde, 6 meses depois, isto é, a 8 de março de 1916, tive a casa destruída por um incêndio ocasional e onde perdi quasi tudo o que possuia, tendo o fogo origem em um prédio vizinho. Pouco depois, minha esposa caiu de cama, levemente enferma, nascendo durante o período de sua moléstia o nosso primogenito, a 23 de maio. Tomou o nome de Flávio e, devido à sua debilidade, originado pelo estado de saúde de sua mãe, faleceu a 2 de julho de seguinte. Segundo filho nasceu em 15 de maio de 1917 e recebeu o nome de Glauco. Aos 5 anos matriculou-se no primeiro ano do curso elementar do N.S. do Rosário, onde bacharelou-se em 1933. No ano seguinte matriculou-se, após exame vestibular, na escola de engenharia, onde formou-se em engenharia civíl, em 1938. Entrou em seguida como engenheiro da prefeitura desta capital, onde trabalha. Em 25 de julho casou-se com D. Sarah Carvalho, havendo desse consórcio duas filhas: Eneida, nascida a 23 de abril de 1943, da qual eu e minha esposa somos padrinhos e, Elisabeth que nasceu a 24 de novembro de 1947. Em abril de 1916 fui transferido para o Instituto de Eletro - técnica no desempenho do mesmo cargo que ocupava no Instituto de Agronomia e onde estive até fevereiro de 1918, lecionando várias cadeiras. Nessa data fui nomeado assistente do serviço de Agronomia, cargo que desempenhei até maio do ano seguinte, além das aulas que dava no Instituto de eletro - técnica, sendo logo depois promovido a chefe daquele serviço por morte do astrônomo Dr. Frederico Rahnenfürer. Em março desse ano, fui designado para reger a cadeira de Astronomia do 3º ano do curso de Engenharia Civil, como também algumas aulas de matemática do Instituto Júlio de Castilhos que deixei em dezembro de 1937. Em 1920 fui enviado pela escola de Engenharia ao observatório da Universidade Nacional de Laplata, na república Argentina, onde fiz vários estudos astronômicos e aperfeiçoei-me na prática instrumental. Nessa viagem levei os meus pais em minha companhia, pois necessitava meu pai fazer uma melindrosa operação que, realmente, levou a efeito a Buenos Aires, sendo muito feliz. Na volta retomei o meu lugar no Instituto Astronômico e Meteorológico e reiniciei as aulas que dava, trazendo do diretor do observatório de Laplata um honroso atestado do meu aproveitamento. (...)"
"Em 3 de janeiro de 1922, nasceu minha primeira filha que tomou o nome de Ione. Começou seus estudos no Instituto de Educação, antiga escola Normal Gal. Flores da Cunha, passando depois para o colégio S. Catarina onde se diplomou em professora em 1940. Casou em 3 de janeiro de 1945 com o médico veterinário Dr. Rui C. Ferreira, havendo dois filhos desse casamento: Lilia, nascida a 4 de outubro de 1946 e Nei, nascido a 21 de setembro de 1949. Mora o casal em S.Ana do Livramento e ela exerce o magistério público estadual.
Quase três anos depois isto é, em abril de 1924 nasceu a segunda filha, que recebeu o nome de Helena. Fez seus estudos no Ginásio Sevigné, não completando o curso ginasial por ter adoecido dos olhos. Casou a 19 de maio de 1948 com o senhor José B. Goulart.
Em fevereiro de 1925 deixei o cargo que ocupava no Instituto Astronômico, a meu pedido, para exercer o de redator da revista Egatea até o ano de 1935, data em que foi extinta, continuando como professor nos Institutos de Engenharia e Júlio de Castilhos. Quando, em dezembro do mesmo ano, departamento nacional do Ensino nomeou um delegado para representá-lo aqui no Estado, afim de se proceder aos exames de todos os estabelecimentos secundários de ensino com fiscalização federal, fui escolhido como presidente da banca de provas escritas de matemática e, nesse cargo, permaneci durante sete anos.
Em fevereiro de 1928, fui convidado pelo diretor da escola de Comércio anexa à faculdade de direito, para lecionar a cadeira de matemática daquela escola, cargo que aceitei e exerci até dezembro de 1937.
A 25 de junho desse mesmo ano, nasceu mais uma filha que recebeu o nome de Maria. Fez o curso elementar no Ginásio Sevigne e tirou o curso complementar no colégio S. Catarina, em Novo Hamburgo, em 1944. Em 1945 lecionou no grupo escolar José do Patrocínio e em 1946 foi funcionária da Escola de Engenharia. Casou a 4 de setembro de 1947 com o Sr. Nerly Antônio de Leão, havendo dois filhos deste consórcio: Newton, nascido a 30 de julho de 1948 e Dóris nascida a 23 de março de 1950 e da qual eu e minha esposa somos padrinhos.
Foi também em 1928 que publiquei as Notas de Astronomia Prática, organizadas pelo astrônomo F. Rahnenführer em 1916, notas que desenvolvi e enriqueci com numerosos exemplos práticos e tabelas. No princípio de 1929 fui nomeado pelo Dr. Vitor Viana, Superintendente do Ensino Comercial, para fiscalizar a Academia de Comércio de Porto Alegre bem como o Instituto Superior de Comércio, anexo ao Ginásio N.S. do Rosário. Nesse cargo estive durante 6 meses, continuando depois como fiscal de exames do último Instituto, função que abandonei em dezembro de 1934. Em meados de 1930 fui nomeado para reger as cadeiras de geometria, trigonometria e analítica dos 2 primeiros anos do curso de engenheiros agrônomos, cargo que deixei em 1935. Em 1931 deixei a aula de Astronomia no Instituto de Engenharia e assumi a cadeira de física em 1932.
Em 15 e 20 de outubro de 1933 tive a desventura de perder meus bons e queridos pais, tendo minha mãe falecido primeiro. Foi minha mãe uma alma santa e boa. De meu pai disse, com inteira justiça, o Diário do Interior de Santa Maria: “... Foi, durante largos anos, escrivão de Órfãos e Auzentes desta cidade, cargo que sempre exerceu com grande capacidade de trabalho, zelo inconfundível e retidão impecável.
Alma boa e coração generoso, o morto de ontem viveu uma vida sem manchas nem deslises, legando aos seus filhos um patrimônio de honradez e de virtudes, tão raros nestes dias sombrios de crise generalizada de caracteres, em que o materialismo, não raro, cede lugar ao abastardamento das consciências.
Se, como funcionário, era inatacável, porque sabia cumprir, religiosamente, os seus deveres, como cidadão e como chefe de família, era inexcedivel, porque prestimoso e exemplar, verdadeiro paradigma, fazia-se estimar e respeitar por todos...”.
Quando em 1936 foi criada a Universidade de Porto Alegre, fui confirmado no cargo de catedrático da cadeira de física da Escola de Engenharia e nesse cargo me mantenho até o presente.
Em 21 de dezembro de 1936, nasceu meu filho Paulo que, tendo iniciado seus estudos no Ginásio N.S. de Rosário, continou-os no grupo escolar José do Patrocínio e, atualmente cursa o Ginásio Anchieta. Em 16 de abril de 1939 nasceu minha última filha, chamada Carmen, a qual iniciou seus estudos no Pensionato S. Terezinha e cursa atualmente o Ginásio Sevigné.
Nos anos de 1936 e 1937 fui igualmente professor dos Cursos Pré-Universitários, onde lecionei matemática, física e mineralogia no Pré-médico e cosmografia e geofísica no pré- técnico, tendo nessa ocasião editado, pela Livraria do Globo, meu segundo livro didático: Elementos da Geofísica, do qual a 1º edição foi feita em 1937 e a 2º em 1941.
Em janeiro de 1939 fui nomeado, pelo Ministro do Trabalho, para membro da Comissão de Metrologia do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, no Rio de Janeiro. Em 1942, desfeita a comissão, foi a mesma reorganizada pelo chefe da Nação, tendo seus membros sido reconduzidos e recebido das mãos do Sr. Ministro do Trabalho seus títulos de nomeação, assinados pelo Presidente da República, quando tomaram posse, no Ministério do Trabalho, no mês de junho.
Em março do mesmo ano, tendo-se fundado a Faculdade de Filosofia da Universidade de Porto Alegre, fui convidado para lecionar a cadeira de física dos cursos de matemática e física, cargo que aceitei e exerço.
Desde 1940 tenho ido, todos os anos, ao Rio de Janeiro, para assistir ás reuniões da Comissão de Meteorologia, tendo levado nessas viagens minhas duas filhas mais velhas Ione e Helena, minha esposa e meus filhos Glauco e Paulo.
Em 1948 a Editora Coruja publicou minhas Notas de Física, lecionadas na Escola de Engenharia da Universidade do Rio Grande do Sul, antiga de Porto Alegre.
Eis, em rápidos traços, a história de minha vida que tem sido, graças a Deus, uma reta desde o seu início e que, apesar de apagada e sem nenhuma expressão, também não tem tido sinuosidades que a enfeiem e a deformem, embora eu não esteja livre dos pequenos defeitos próprios da contigência humana e que a todos é peculiar.
Criado e educado na religião cristã, tenho sido toda a vida católico praticante e assim espero ser o resto dos meus dias, com o favor de Deus.
Porto Alegre, 6 de setembro de 1950.
Mário da Silva Brasil”